A companhia Atravessa a Porta foi fundada em 2012, no desejo de continuar o trabalho de um grupo que montou um pequeno espetáculo intitulado “Presépio de Adulto”, num ciclo de oficinas de teatro realizadas no Caps II Dra Juliana Garcia Pacheco, no Paranoá, Distrito Federal. Ela foi batizada em decisão coletiva, a partir da ideia de atravessar as portas dos manicômios e mesmo dos serviços comunitários de saúde mental para levar criações artísticas de pessoas entendidas como loucas para a rua e para a sociedade, defendendo o valor cultural dessas criações e o direito à cultura de seus autores.

A partir de 2013, a Cia Atravessa a Porta ampliou suas possibilidades de linguagem, tornando-se um projeto maior, que envolve teatro, cinema, videoarte, performance, cultura antimanicomial e cuidado em saúde mental, tendo realizado diversos trabalhos com essas linguagens. Da cia participam frequentadores dos serviços de saúde mental, estudantes, artistas e profissionais da clínica psicossocial. A busca é por sustentar uma experiência tanto clínica como político-estética, para contribuir com a criação de espaços sociais para a loucura e para a cultura antimanicomial, pautados na diversidade cultural e ocupados pelas pessoas que fazem tratamentos em saúde mental, em lugar de autoria e criação coletiva.

A existência desses espaços é necessária e urgente, uma vez que contribui com a desconstrução de preconceitos em relação ao sofrimento psíquico humano – questão de saúde pública atual – além de gerar enriquecimento cultural e contribuir com o tratamento de saúde mental em liberdade. Trabalhamos com a perspectiva de um encontro de culturas entre os diversos repertórios dos nossos participantes, para assim oferecer à sociedade outras perspectivas criativas.

Desde o trabalho de Nise da Silveira e parceiros, iniciado na década de 1940, o Brasil construiu uma linhagem de ricas experiências que demonstram que a arte e sua abertura para formas diversas de linguagem podem contribuir para a construção de novas relações pessoais e sociais com o que é entendido como loucura. Relações abertas para o mundo, que encontram potência nas várias experiências subjetivas humanas, mesmo aquelas que atravessam lugares de sofrimento psíquico intenso. Com a Reforma Psiquiátrica, que se fortalece com a criação da Lei 10216 em 2010 – lei que defende o tratamento de saúde mental comunitário –, reforçou-se a necessidade de espaços sociais para o cuidado em saúde mental, em diálogo com a cultura. A Cia Atravessa a Porta trabalha inscrita nestas tradições, por uma sociedade sem manicômios e pela construção de uma cultura antimanicomial.

Trabalhos acadêmicos

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